Falhas na linha do tempo apontam uma suposta falsificação de documento público com o objetivo de aprovar a ‘PEC Miojo’ e alterar a Constituição do Amazonas
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Manaus | AM
O deputado estadual Delegado Péricles poderá responder pelo crime de falsificação de documento público, no Tribubal de Justiça do Amazonas (TJAM). Segundo os deputados que participaram da tentativa de alterar a Constituição do Amazonas, em apenas 15 minutos, para dar caráter de legalidade à eleição relâmpago na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM), Péricles teria sido o mentor de toda a ‘fabricação’ documental atestando reuniões em comissões que, de fato, não aconteceram.
De acordo com advogados criminais consultados pelo site O PODER, o ato de criar documentos atestando que teriam sido realizadas reuniões, que de fato não ocorreram, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, em ato contínuo, na Comissão Especial formada pelos líderes dos partidos – sendo que diversos deles não foram convocados – pode se enquadrar no crime de falsificação de documento público, previsto no Artigo 297 do Código Penal Brasileiro.
O delegado poderá ter, ainda, pena agravada em 1/5, caso o Poder Judiciário entenda que ele se prevaleceu do cargo de deputado, e também do de presidente da CCJ da Casa, para criar a documentação e assim, permitir que fosse alterada a Constituição do Estado do Amazonas, tudo em um lapso de tempo de apenas 15 minutos.
A 10a reunião da CCJ, ocorrida na última quinta-feira (3), já havia sido remarcada outras três vezes e deveria ocorrer no dia 9 de dezembro, mas acabou ocorrendo na quinta, na presença de apenas três dos seis integrantes: Serafim Corrêa, Wilker Barreto e Delegado Péricles. Porém, as assinaturas deles – manuscrita ou digital – não constam na ata.
Belarmino Lins e Joana Darc, que também são integrantes da CCJ, não foram informados previamente da mudança de data, ocasião em que tramitou a PEC, conforme denúnica feita na tarde daquele mesmo dia pelos próprios deputados.
Além disso, a tela do sistema da ALEAM, que controla a tramitação dos processos no Legislativo, mostra que o autor da propositura de mudança da Constituição não é um deputado específico, e sim a própria CCJ, presidida pelo Delegado Péricles.
Na mesma imagem, é possível acompanhar o lapso de tempo em que tudo aconteceu, até que a Constituição foi alterada. Conforme o documento, a CCJ deu início na tramitação da proposta de alterar a Constituição, às 9h52, quando foi protocolada. Às 9h58, foi protocolado o regime de urgência da PEC. Porém, o parecer da CCJ só foi protocolado às 11h11 e o parecer da Comissão Especial foi protocolado às 11h16. Ou seja, a votação e aprovação do parecer antecedeu a submissão da PEC.
Vale ressaltar que todas as entradas de documentos referentes a ‘decisão’ da CCJ foram feitas pela assessora do deputado Delegado Péricles, Hemilly Costa Monteiro. Outro ponto importante de se salientar, é que o deputado Wilker Barreto, que até então estava na reunião da CCJ, estava ao mesmo tempo inscrito como primeiro orador, no pequeno expediente, falando diretamente da tribuna.
Outra análise de uma possível fabricação dos documentos, é que o parecer só pode ser votado na CCJ depois que consta em pauta e, neste caso, só foi para pauta depois das 13h, sem constar que seria em regime de urgência como ocorreu, entrou com o prazo normal de 5 dias para tramitação. “Como você analisa na CCJ logo que não constou em pauta?’, contestou um assessor parlamentar consultado pelo site.
Para especialistas em Direito Criminal ouvidos pela reportagem, só o lapso de tempo é prova material suficiente para provar que as reuniões não aconteceram de fato e que foram, na verdade, simuladas, para que fosse possível produzir a documentação usada no dia. Outro elemento probatório, seriam as declarações, ao vivo, durante a sessão plenária, dos deputados Belarmino Lins, Cabo Maciel e Joana D’arc que fazem parte da CCJ e afirmam não te recebido qualquer convocação para reunião.
Como o delegado tem foro privilegiado, a tramitação do processo penal deverá ocorrer no âmbito do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e a pena prevista neste tipo de crime é de reclusão, de 2 a 6 anos, além de multa. Deverá ser pedido, também, o afastamento do parlamentar para que possam ser conduzidas as investigações na casa.
‘PEC Miojo’
Após decisão da Justiça, na última sexta-feira (4), houve a suspensão de todos os atos do grupo de deputados que tentou alterar a Constituição do Amazonas, em 15 minutos, e por consequência anulou a eleição para a presidência da Casa.
Versão
O deputado Delegado Péricles entrou em contato com a equipe do site O PODER e encaminhou um documento chamado de ‘Memoriais’, onde ele narra sua versão dos fatos. acerca da aprovação ‘PEC Miojo’. Nele, o parlamentar diz que foi tomada “como verdade absoluta a narrativa ficcional engendrada” pelos deputados Belarmino Lins, Alessandra Campêlo e Saullo Vianna.
Além disso, ele justifica que as assinaturas eletrônicas dos deputados presentes na CCJ não correspondem ao horário de reunião, pois ocorre o mesmo as sessões virtuais do TJAM “em que o julgamento se dá em um dia e o acórdão assinado é disponibiloizado alguns dias depois”. Porém, no horário da reunião da CCJ, na qual o deputado Wilker Barreto se disse presente, ele estava discursando no pequeno expediente, no plenário.
Péricles refurta a tese de que os membros da CCJ não foram convocados para a reunião da quinta-feira, diferentemente do que mostram os outros deputados de que reunião havia sido remarcada somente para o dia 9, e diz que a decisão do desembargador Wellington José de Araújo, “desenhou uma situação esdrúxula de nítida intervenção judicial do Poder Legislaivo, em matéria essencialmente interna, o que revela ato manifestamente ilegal, inclusive por violação à jurisprudência dos Tribunais Superiores e do TJAM” e afirma que para o retorno “à normalidade constitucional e institucional do Amazonas” é necessária a “revogação da liminar concedida”.
*Matéria atualizada às 12h09 para acréscimo de informação
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