O município com mais indígenas no país que viu comerciante estuprador ser homenageado na Câmara, agora assiste crianças e jovens indígenas serem exportados para a Turquia
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AMAZONAS | Após a publicação do site Metrópoles de que um grupo islâmico denominado Associação Solidária Humanitária do Amazonas (Asham), estaria enviando crianças e adolescentes indígenas de São Gabriel da Cachoeira para a Turquia, uma comitiva com a presença do deputado federal Amom Mandel (Cidadania) esteve neste último fim de semana no município.
A visita é parte dos desdobramentos de apurações iniciadas na Câmara dos Deputados (DF) no mês passado. No último dia 10 de maio, deputados, representantes da Funai, Polícia Federal (PF) e o jornalista Thalys Alcântara, responsável pela reportagem que denunciou o caso, estiveram em uma audiência para discutir a situação.
O repórter contou que veio a Manaus e em São Gabriel da Cachoeira, conversou com 18 pessoas e andou mais de 6 mil quilômetros para entender a história e revelar como é o funcionamento do que chamou de “nova catequização”.
“As crianças indígenas tinham de fazer orações e até aprendiam a ler parte do Alcorão em árabe e não podiam se banhar no rio para não mostrar as partes íntimas”, contou o repórter.
Nadar nos rios é um dos principais costumes indígenas, além do naturalismo, ou seja, os indígenas encaram como tradicional estar sem roupas.
Por que a atuação visando povos indígenas que estão distantes 852 quilômetros da sede da associação, instalada no bairro São Jorge, zona oeste de Manaus? A Asham, de origem turca, é dirigida por Abdulhakim Tokdemir e Tugrul Metin, uma instituição com pouco mais de um ano de atuação como Pessoa Jurídica na capital do AM, criada em dia 25 de abril de 2022.
Nenhuma das atividades desenvolvidas pela associação especificam trabalhos voltados a povos tradicionais, pois seus Cadastros Nacionais de Atividades Econômicas (Cnae), parte formal de uma empresa, constam como “atividades de organizações associativas ligadas à cultura e à arte” (Cnae 94.93-6-00) e “serviços de assistência social sem alojamento” (Cnae 88.00-6-00).
Com pouco tempo desse tipo de atuação da Asham, a Funai recebeu também denúncias de que os indígenas de São Gabriel da Cachoeira primeiro eram trazidos para a sede da associação em Manaus. Em outubro do ano passado, a Coordenação Regional (CR) da Funai em Manaus e o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), foram à sede e em uma visita técnica, identificaram oito jovens, do sexo masculino, com idades entre 13 e 16 anos, dos povos Tariano, Tukano, Dessano e Baniwa.
Os jovens disseram que “um parente” mediou a ida deles para a instituição com a promessa de melhores oportunidades de vida. A viagem a Turquia teria o objetivo de concluir uma formação escolar, e retornar ao Brasil, na condição de “professor de religião”. A Funai constatou ainda, que três jovens já haviam sido enviados à Turquia e convertidos ao islamismo.
Como consequência da visita técnica, em fevereiro deste ano, o Conselho Tutelar e a Polícia Federal em Manaus realizaram uma diligência na associação, onde encontraram 14 jovens e uma criança, todas indígenas de São Gabriel da Cachoeira. As autoridades retiraram os indígenas da Asham e os encaminharam para uma instituição regularizada, até o retorno às suas respectivas famílias.
Como é a rotina na Asham, antes de ir para a Turquia
Na audiência em Brasília, foi relatado que os próprios jovens indígenas recrutados informaram a rotina de afazeres domésticos, ida para a escola à tarde, mas a proibição de sair da associação fora do período escolar. O contato com parentes era realizado, ou por meio de visitas na sede, ou por telefone, porém os celulares só poderiam ser utilizados às sextas e sábados.
Ainda conforme foi dito na audiência da Câmara Federal, o restante da rotina era de educação moral e religiosa, orações e estudos de árabe. Dormiam no mesmo quarto, em camas individuais, limpavam a casa, utensílios de cozinha, roupas e preparavam sua própria comida, restrita a arroz e feijão, por algumas vezes macarrão, porém sem qualquer proteína de origem animal.
Na audiência foi relatado ainda que no local, havia a presença apenas de dois turcos, responsáveis pela instituição junto às crianças e os jovens indígenas. Para que os indígenas pudessem estar na Asham, os pais e responsáveis assinavam autorizações, porém na Câmara foi constatado que as autorizações não têm validade, devido a instituição não possuir cadastro para funcionar como abrigo, nem possuir autorização para a guarda de crianças e adolescentes.
O PODER procurou a Asham para falar sobre o caso e por telefone, na tarde desta última terça-feira (13), fomos orientados a falar com o diretor, na manhã do dia seguinte. Não há página na internet e pouco se sabe sobre o trabalho da Asham. Ao retornar o contato, primeiro ligamos e não fomos atendidos e ao enviar mensagem, a mesma apenas foi ouvida, porém não ouve resposta.
As promessas de ida ao exterior têm seus perigos
O PODER conta com exclusividade os relatos de uma jovem que acredita que chegou muito perto da rede de tráfico de pessoas que é silenciosa e lucrativa, movimentando todos os anos 30 bilhões de dólares, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).
Só no AM foram notificados 60 casos de tráfico de pessoas entre 2010 e 2020. Somos o oitavo estado com mais ocorrências desse tipo no país conforme o Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do Ministério da Saúde.
Em 2013, chamava a atenção a beleza da amazonense, que não iremos revelar a identidade e que de imediato foi atraída por uma oportunidade que parecia única. Estava agoniada, em busca de oportunidades e uma vida melhor. Em Manaus, morava em um kitnet alugado, estava desempregada e prestes a desistir da faculdade, que não conseguia mais custear. Na época, à procura de emprego, viu uma vaga em um classificado de jornal, convocando pessoas comunicativas e apenas com disponibilidade para trabalhar no exterior.
Quando chegou para a seleção na empresa, que tinha escritório no bairro Petrópolis, zona sul de Manaus, percebeu que rapidamente os outros candidatos foram dispensados e facilmente a vaga passou a ser dela.
A partir daí, começou a manter contato com uma chinesa, que queria ser chamada de Maria. Na entrevista, soube que “iria trabalhar com pessoas da alta sociedade e exigentes, na China”. Nem se deu conta de que não poderia se comunicar com esse público, sem saber o Mandarim (lingua oficial chinesa) ou qualquer outro idioma. Mesmo assim, em pouco tempo teria seu vôo marcado para uma cidade que nunca soube dizer onde fica.
Outras atitudes da “Maria” já chamariam a atenção de quem não estivesse tão afetado pela felicidade de ir morar fora e ganhar em dólar. Nem mesmo a chinesa convocando a mãe da candidata e a conversa que tiveram, trouxe desconfiança.
“Sua filha vai para trabalhar, mas se fugir e optar por se prostituir para ganhar mais, não nos responsabilizaremos”, disse a chinesa à mãe da candidata.
A confiança na vaga de emprego e na viagem continuavam, é que a recrutadora chinesa deu um conjunto de colar e brincos de ouro, produtos para clarear os dentes e pediu um novo desenho na sobrancelha da nova contratada, que se sentia valorizada.
Houve a assinatura de um contrato com o termo “Confidencial”, logo na primeira folha, com uma cláusula que, novamente, não despertou desconfiança alguma na jovem. A história chamou a atenção de alguém, que denunciou anonimamente à Polícia Federal (PF). Em poucos minutos, descobriu-se no cartório que, além de ser um falso Contrato, caso desistisse do suposto emprego na China, a jovem, precisaria trabalhar 2 anos, apenas para quitar o valor da multa rescisória, prevista na cláusula.
Mesmo assim, a PF nunca conseguiu comprovar que possivelmente tratava-se de um crime de tráfico de pessoas e a possível vítima, nunca voltou para depor. A PF apenas recomendou que se desconfie de promessas feitas por estranhos para ir morar no exterior.
Crianças e adolescentes de São Gabriel da Cachoeira já foram vítimas de uma rede de pedofilia, comandada por poderosos do município, que abusavam de cunhantãs (meninas em língua indígena) com idades a partir dos 9 anos.
Em 2015, policiais federais em apoio à SSP-AM (Secretaria de Segurança Pública do Amazonas) cumpriram um mandado de prisão expedido pelo desembargador João Mauro Bessa, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e prenderam o comerciante do município, Marcelo Carneiro Pinto.
Marcelo Carneiro era acusado de manter relações sexuais com meninas indígenas virgens, que tinham entre 9 e 14 anos de idade, de acordo com a denúncia, oferecendo dinheiro, presentes, alimentos é até bombons como forma de atrair as vítimas.
Além de Marcelo, seus irmãos Arimatéia Carneiro Pinto e Manuel Carneiro Pinto, também empresários no município e outros nomes influentes e de poder econômico, tornaram-se réus e chegaram a ser presos pelos crimes de estupro de vulnerável, corrupção de menores, satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente, favorecimento da prostituição de vulnerável, rufianismo e coação no curso do processo.
Manuel Carneiro Pinto, inicialmente condenado a 29 anos de prisão em regime fechado, conseguiu um recurso e foi receber sua homenagem em 2019, na Câmara Municipal de São Gabriel da Cachoeira. Das mãos do então vereador e militar reformado do Exército, Feliciano Borges, Manuel ganhou o título de “guardião da fronteira da cabeça do cachorro”.
Procuramos o Tribunal de Justiça do Amazonas para saber qual a situação atual dos acusados junto à Justiça amazonense e até o momento da publicação desta reportagem não recebemos resposta. Tentamos contato com os empresários citados mas não conseguimos.
Quem é o vereador que entrega o Diploma
Feliciano Borges Neto, o vereador que entrega o Diploma ao comerciante acusado de estupro, seria nomeado em 2021, Coordenador Regional (CR) do Rio Negro, ou seja, ele passou a comandar a sede da Funai (Fundação Nacional do Índio) em São Gabriel da Cachoeira.
Criada em 2009, a unidade é responsável por ações voltadas a aproximadamente 48 mil indígenas, também nos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. Feliciano Borges foi exonerado com outros 3 coordenadores regionais do AM, em janeiro deste ano.
A cada 10 habitantes, 9 são indígenas em São Gabriel da Cachoeira (AM), o que torna o município, o maior em número de indígenas habitando uma cidade no Brasil. Por conta disso, em janeiro do ano passado, se tornou a Capital Estadual dos Povos Indígenas, por meio da Lei n.º 5.796, sancionada pelo governador Wilson Lima (União Brasil) e publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) do Amazonas (AM).
Um estudo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), que analisa a territorialização das línguas indígenas na sede do município, aponta para uma parte da riqueza dos povos que vivem em São Gabriel da Cachoeira, localizado em uma região fronteiriça conhecida como “cabeça do cachorro”, no norte do Amazonas.
“O município é constituído por 23 povos indígenas pertencentes a cinco famílias linguísticas Tukano Oriental, Aruak, Yanomami, Japurá-Uaupés (Maku) e Tupi (Nheengatu falado pelos povos Baré, Werekena e parte dos Baniwa do baixo rio Içana), falantes entre 20 a 23 línguas indígenas”, diz o estudo da UFAM.
Este ano, pela primeira vez uma mulher e liderança indígena ocupa a Coordenação Regional (CR) da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) no Alto Rio Negro (AM). Maria do Rosário, do povo Baniwa, teve o nome indicado pelos próprios indígenas.
O TRE-AM rejeitou o registro de candidatura de Marquinhos Macil (MDB) para a eleição de prefeito de Apuí, impedindo-o de concorrer. A decisão, tomada em 12 de setembro, baseou-se em irregularidades nas contas de sua gestão e condenação por improbidade administrativa, conforme impugnações apresentadas pelo MP eleitoral, pelo PL e por um candidato a vereador.
Nesta sexta-feira (13), a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) sediou o II Encontro Estadual de Controle Interno, promovido com o Conselho Estadual de Controle Interno do Amazonas (Ceciam). O evento focou na melhoria da administração pública e entregou Selos de Integridade a gestores que se destacaram pela adoção de boas práticas no Controle Interno.
O estudo “As Chances de Ser Eleito: Branquitude e Representação Política” revela que homens têm 2,5 vezes mais chances de serem eleitos que mulheres. A pesquisa analisou dados do TSE e destacou que o financiamento e o gênero são os principais fatores que influenciam a eleição, com uma predominância de homens e brancos na Câmara.
O ex-presidente Jair Bolsonaro estará em Manaus no dia 28 de setembro para apoiar a chapa “Ordem e Progresso”, liderada pelo candidato à prefeitura Capitão Alberto Neto (PL) e a vice Professora Maria do Carmo (NOVO). O evento inclui uma carreata e um comício, com mais detalhes a serem divulgados posteriormente. Capitão Alberto Neto pediu que os apoiadores compartilhem a informação e compareçam ao evento.
Na manhã desta terça-feira (10), ocorreram as eleições para os novos gestores do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM). A desembargadora Carla Reis foi aclamada presidente do TRE-AM, e a atual presidente do TJAM, desembargadora Nélia Caminha, foi eleita vice-presidente e corregedora do TRE-AM. No TJAM, o desembargador Jomar Fernandes foi aclamado presidente, Airton Gentil foi eleito vice-presidente e Hamilton Saraiva corregedor geral. A posse será no início de 2025, com mandato previsto para o biênio 2025-2027.
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