Criminosos armados com fuzis ameaçaram indígenas no Vale do Javari no último domingo (16)

MANAUS | AM

Recrutamento de indígenas do povo Kanamari para o tráfico, pesca, caça e extração de madeira, tudo de maneira ilegal, além da invasão por parte de homens armados com fuzis no último domingo (16). A denúncia dos indígenas ainda traz mais detalhes, como a ameaça feita pessoalmente por um criminoso fortemente armado, ao Cacique Kanamari, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari, às vésperas do dia dos povos originários, lembrado nesta quarta-feira (19).

O Vale do Javari concentra o maior número de povos isolados do mundo e além do povo Kanamari, vivem na região os Marubo, Mayuruna/Matsés, Matis, Kulina Pano e pequenos grupos Korubo e Tsohom Dyapá, de recente contato. Porém a TI fica na fronteira com o Peru, que já foi o maior produtor de Cocaína do mundo e acaba sendo rota do narcotráfico, além do interesse de outros grupos em sua exploração.

No entanto, foi por conta da morte brutal do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, que o Vale do Javari ganhou evidência no mundo. Bruno fiscalizava pescadores que invadiam o local, função que indigenistas e indígenas continuam a operar em 2023, de acordo com denúncias da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

Bruno e Dom foram mortos a tiros no dia 5 de junho de 2022, tiveram os corpos esquartejados, queimados e enterrados em uma cova rasa. Com a repercussão do crime o governo atual passou a visitar a região e usar a visibilidade internacional para se promover.

Em fevereiro deste ano, o Ministério dos Povos Indígenas do governo Lula, por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai), havia publicado uma carta acusando o governo anteiror de abandono, reconhecendo a ação de criminosos no território indígena (TI), falando de retomada do Vale do Javari, porém sem o reconhecimento de não haver retomada de fato e de que abandono e a ação criminosa perduram.

“No dia de hoje, a Funai se junta a outras autoridades federais e ministros de Estado, respondendo ao convite da Univaja para um primeiro passo para retomada do Vale do Javari, assolado por quadrilhas criminosas diante do abandono promovido pelo governo anterior. Esse primeiro passo tem que ser acompanhado do reconhecimento das responsabilidades institucionais pelo que aconteceu e segue acontecendo na região”.

A carta e o compromisso do governo Lula foram lidas diante de uma comitiva de cerca de 50 pessoas, com a presença inclusive da viúva de Bruno Pereira, Beatriz Matos, a embaixadora da Inglaterra no Brasil, Stephanie Al-Qaq; a ministra dos Povos Indígenas (MPI), Sonia Guajajara; representantes do ministérios da Justiça e Segurança Pública, dos Direitos Humanos e Cidadania e da Polícia Federal (PF); o secretário da Secretaria Especial de Saúde indígena (Sesai), Weibe Tapeba; o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIRC) da Funai, Leonardo Lenin e a secretária de Direitos Territoriais e Ambientais Indígenas do MPI, Kerexu Yxapyry, entre outros.

No dia 20 de março deste ano, há quase dias 100 dias de governo Lula, o assessor jurídico da Univaja, Yura Ní-Nawavo Marubo, denunciou no programa Boa Noite Amazônia na TV e Rádio Onda Digital (canal 08.2 e 92,3 FM) o descaso do governo Lula.

“De concreto mesmo apenas visitas, na prática mesmo que é o que nós queremos mesmo é a fiscalização. Conforme já foi repassado vários documentos para essas instituições, inclusive para a CPI que foi criada na época e até então não ocorreu absolutamente nada”, disse Yura Marubo.

No dia dos povos originários, O PODER voltou a entrar em contato com Yura Marubo para questionar a Univaja a respeito das recentes denúncias de ameaças por parte de grupos com armas de grosso calibre ao povo Kanamari, no Vale do Javari. Desta vez o assessor jurídico da Univaja seguiu a linha adotada pelo governo Lula falando em “retonada” e disse atribuindo a governos passados a crise de segurança vivida no território.

“Agora neste governo, no governo Lula, as forças de segurança estão com autonomia e poder de Estado para fazer a intervenção necessária nesses casos onde o crime organizado imperava e a mudança vem ocorrendo de forma paulatina por conta desse desmonte que ocorreu no governo passado e que agora está havendo a retomada desses pontos estratégicos e a fiscalização da fronteira do Brasil. Então, essas ações, principalmente da Polícia Federal no Val do Javari, têm freado e a sensação de segurança, ela aumentou”, declarou o assessor da Univaja.

A respeito dos acontecimentos do último fim de semana, onde o Cacique dos Kanamari relatou ter sido ameaçado por grupo armado com fuzis, Yura marubo tratou a questão como “casos pontuais onde há ameaças”. O assessor jurídico da Univaja disse ainda que “é um tema que a Univaja não pode aprofundar, pois ocorre como segredo de Justiça para que a gente não possa atrapalhar as investigações”.

FOTO: PODER 360 (Bandeiras de Pernambuco e do Sport Club do Recife cobriram caixão de Bruno Pereira)